A jornalista Monica Gugliano, em coluna para o Estadão, revelou que o anúncio de possíveis mudanças na previdência dos militares, visando cortes orçamentários, provocou uma reação intensa e contrária da cúpula das Forças Armadas.
Segundo a colunista, a notícia caiu como uma surpresa amarga entre os oficiais, que consideraram a decisão uma traição inesperada do governo. O assunto, sensível por natureza, causou um mal-estar notável entre os comandantes militares, que se declararam “pegos de surpresa” e “traídos” pela inclusão da pasta da Defesa no programa de ajuste fiscal.
Sentimento de traição e desconfiança
Gugliano descreve como os militares se sentiram indignados com o anúncio, argumentando que em nenhum momento foram informados de que a previdência militar estaria na mira dos cortes. “Aceitamos estudar mudanças pontuais e discutir propostas. Mas parece que foi feito na surdina para que fosse considerado um fato consumado,” relatou um dos oficiais, citado pela colunista. Essa declaração reflete a percepção de que a decisão foi tomada de forma unilateral e sem diálogo prévio, o que provocou um ressentimento profundo na liderança das Forças Armadas.
Além do aspecto financeiro, essa surpresa gerou um forte desconforto institucional, exacerbando o que os militares já sentem ser uma posição desfavorável perante o atual governo.
Gugliano apontou que existe, nas Forças Armadas, uma sensação de desconfiança histórica em relação ao Partido dos Trabalhadores e outras legendas de esquerda, alimentada pela memória do governo militar e, mais recentemente, pelo episódio do 8 de janeiro, quando houve suspeitas sobre o possível envolvimento de militares nos atos.
A Comparação com Outras Carreiras de Estado
A colunista ressaltou que, ao compararem sua situação com outras carreiras públicas, os militares argumentam que são constantemente mobilizados para locais remotos e perigosos e que não têm os mesmos “supersalários” ou benefícios do Poder Judiciário, uma das categorias que frequentemente consideram privilegiada.
Para eles, o sistema de proteção social dos militares já passou por uma reforma em 2019, durante o governo Bolsonaro, quando houve um aumento na alíquota de contribuição e um prolongamento do tempo de serviço.
Por isso, a decisão de incluir a Defesa no corte de gastos parece injusta para os oficiais superiores. Eles questionam por que carreiras como o Judiciário não são incluídas em uma revisão similar e veem esse movimento como mais uma ação que prejudica as Forças Armadas, um setor que, segundo eles, cumpre um papel fundamental de segurança e ordem no país.
Investigação do 8 de Janeiro e o papel de José Múcio
Gugliano revelou ainda que a tensão vai além dos números do orçamento. Segundo ela, o ministro da Defesa, José Múcio, tenta mediar os ânimos enquanto aguarda a conclusão das investigações sobre os atos do 8 de janeiro. Esses inquéritos, conduzidos pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal, estão próximos de sua fase final, mas Múcio tem tratado o tema com cuidado, esperando o momento oportuno para divulgar os resultados.
Esse cenário é uma prova da tensão delicada entre os militares e o governo federal. De acordo com a coluna, o governo esperou o período eleitoral para não politizar ainda mais o caso e para evitar que a divulgação das conclusões influencie o debate público.
Mas com a questão previdenciária agora na mesa, a situação ganha novos contornos, e as Forças Armadas se veem pressionadas em dois flancos: tanto na questão do ajuste financeiro quanto nas possíveis implicações dos atos de janeiro.
Futuro Incerto e Relação Abalada
Para Gugliano, o cenário atual coloca em teste a já frágil relação entre o governo e as Forças Armadas. O ressentimento é palpável, e a falta de diálogo direto para tratar da previdência militar piorou a situação. Agora, os militares aguardam esclarecimentos e demonstram estar atentos a qualquer movimento que possa aprofundar o desgaste entre as instituições.
“Os quartéis estavam apaziguados e a politicagem do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, fora da caserna,” escreve Gugliano, destacando que o clima era de expectativa para virar a página. Mas, com a inclusão do setor de Defesa no ajuste fiscal, os militares enxergam que o período de tranquilidade pode ser ameaçado. E mais: UFRJ e Museu Nacional têm fornecimento de energia cortado por falta de pagamento. Clique AQUI para ver. (Foto: Palácio do Planalto/EBC; Fonte: Estadão)