Uma operação coordenada pelo Itamaraty para trazer ao Brasil a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, utilizando uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), causou desconforto entre integrantes do próprio governo Lula. A revelação foi feita pela colunista Bela Megale, em reportagem publicada nesta semana no jornal O Globo.
Nadine Heredia é esposa do ex-presidente peruano Ollanta Humala, que está preso em Lima. Ambos foram condenados no dia 15 de abril a 15 anos de prisão por envolvimento em um esquema de corrupção ligado à empreiteira Odebrecht, com acusações de lavagem de dinheiro e prática de caixa dois durante a campanha presidencial de 2011.
Conforme revelou a colunista, a operação para trazê-la ao Brasil provocou ao menos duas críticas significativas dentro do Executivo, inclusive entre ministros da área jurídica. A primeira delas diz respeito ao uso de recursos do Estado brasileiro para resgatar uma figura política condenada pela Justiça de outro país.
“Ao mobilizar um avião da FAB para resgatar uma ex-primeira-dama condenada pela Justiça de outro país, o Brasil acabou se envolvendo, mesmo que de maneira indireta, num tema de uma nação estrangeira”, destacou Bela Megale.
A segunda crítica, segundo a reportagem, refere-se às consequências políticas do ato. O uso da aeronave e a concessão de refúgio a Nadine alimentaram o discurso da oposição, que tem usado o caso para tentar vincular o governo Lula à proteção de figuras condenadas por corrupção. Segundo a colunista, “o governo abastece a artilharia da oposição, que já vem usando o episódio para associar a gestão Lula ao abrigo de condenados por corrupção”.
Além disso, já foi solicitada ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma apuração formal sobre a utilização da aeronave da FAB para o transporte da ex-primeira-dama peruana.
A insatisfação interna também se deu pelo modo como a decisão foi tomada. Conforme mostra a reportagem, o plano de trazer Nadine ao Brasil e lhe conceder proteção foi comunicado a ministros de outras pastas apenas poucas horas antes de sua execução. “A falta de debate sobre o tema também foi alvo de grande incômodo entre membros do governo”, escreveu Bela Megale.
A reportagem expõe os ruídos provocados pela ação diplomática em um momento delicado, no qual o governo já enfrenta pressões relacionadas à pauta de segurança pública e críticas sobre gastos públicos. O caso envolvendo Nadine Heredia amplia as tensões internas no Planalto e acende um alerta sobre decisões sensíveis tomadas sem consenso entre os principais setores do Executivo. E mais: PL da Anistia: outros mil projetos aguardam pedido de urgência na Câmara. Clique AQUI para ver. (Foto: reprodução vídeo; Fonte: O Globo)