Conheça a ‘Sala das Lágrimas’: o pequeno cômodo onde nasce o Papa e morre o homem

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Após o anúncio de “Habemus Papam” ecoar pelo Vaticano, há um momento profundamente íntimo e simbólico que antecede a aparição pública do novo pontífice.

Trata-se da passagem pela chamada Sala das Lágrimas, um pequeno e reservado cômodo localizado ao lado esquerdo do altar da Capela Sistina, onde o Papa recém-eleito vive seus primeiros minutos de transformação espiritual e institucional.

O nome do local remonta a 5 de dezembro de 1590, quando o Papa Gregório XIV teria chorado copiosamente ao ser levado até ali após sua eleição — e por isso o espaço ganhou o apelido que carrega até hoje. A inscrição de uma placa no interior da sala faz memória desse momento e ajuda a preservar a tradição.

O contraste entre essa sala simples e a suntuosidade da Capela Sistina é marcante. Deixam-se para trás os afrescos grandiosos de Michelangelo e as figuras bíblicas em proporções quase sobre-humanas, para adentrar um ambiente modesto e pouco iluminado: uma janela coberta por cortinas, duas cadeiras de madeira escura, uma mesa, um sofá vermelho, um cabideiro. Fragmentos de afrescos ainda sobrevivem nas abóbadas, mas a essência da sala está na sua austeridade.

Nela, o novo Papa encontra três batinas brancas (em tamanhos diferentes), preparadas pela tradicional alfaiataria romana Gammarelli. Auxiliado pelo mestre de cerimônias pontifícias, ele escolhe e veste aquela que marcará o início de sua vida como líder da Igreja Católica. Mas o ato de se vestir não é meramente prático — é simbólico.

Como descreve o monsenhor Marco Agostini, responsável pelas cerimônias papais, trata-se de uma “mudança existencial”, um momento em que “a função se torna maior do que a pessoa”.

É também, segundo Agostini, o instante em que o eleito toma consciência de que sua vida, dali em diante, jamais será a mesma.

“Ali ele aprende que a figura do Papa é muito maior do que o homem que a veste, e que, por baixo dela, o Papa aprenderá todos os dias a morrer”, afirma o monsenhor. A solidão daquele ambiente, após os dias intensos do Conclave, revela-se o primeiro e mais profundo momento de introspecção do pontífice — sozinho consigo mesmo e, sobretudo, diante de Deus.

Historicamente, esse espaço ganhou peso espiritual com o tempo. O Papa Leão XIII (1878–1903) também teria se emocionado ao cruzar aquela porta, tal como outros pontífices ao longo dos séculos. Alguns rezam, outros choram, todos compreendem que acabaram de atravessar uma fronteira invisível: de cardeal a Vigário de Cristo, de homem comum a símbolo vivo da fé católica. O sucesso de Pedro, o primeiro dos Papas.

Por trás do Juízo Final de Michelangelo, quase escondido, encontra-se ainda a lembrança de um afresco hoje perdido, atribuído a Perugino, que representava o Papa Sisto IV ajoelhado, com a tiara aos pés, em humilde reverência à Virgem Maria — uma imagem que ecoa o espírito da “Sala das Lágrimas”: humildade diante do peso divino da missão.

Ao deixar o recinto, o Papa não apenas veste uma nova roupa. Ele assume um novo destino. A partir dali, caminha rumo à sacada central da Basílica de São Pedro, de onde abençoará o mundo — não mais como um entre muitos cardeais, mas como o novo sucessor de Pedro. (Foto: Vaticano)

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