Pela segunda vez em menos de dois anos, Portugal testemunhou a queda de um governo devido a acusações de falhas éticas. Nesta terça-feira (11), a Assembleia da República votou contra uma moção de confiança apresentada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD), obrigando-o a deixar o comando do país.
Montenegro, que assumira o posto em abril de 2024, viu seu mandato chegar ao fim em menos de 12 meses. Diante da crise política, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa anunciará em breve a data das novas eleições, previstas para ocorrer em meados de maio.
O desfecho não surpreendeu. Montenegro, líder do PSD, levou a moção ao Parlamento já prevendo sua rejeição, uma estratégia para evitar um desgaste ainda maior em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
O político enfrentava denúncias de conflito de interesses relacionadas à Spinumviva, empresa de propriedade de sua família que atua em áreas como consultoria, produção de vinhos na região do Douro e negócios imobiliários.
Um dos pontos de controvérsia é que, até recentemente, a companhia prestava serviços à Solverde, empresa que opera cassinos em Portugal — um setor sob concessão estatal. Apesar de não haver evidências concretas de favorecimento à Solverde durante seu governo, a ligação gerou questionamentos éticos que abalaram sua gestão.
Montenegro criou a Spinumviva em 2021, período em que estava afastado da vida política. Ao retomar sua trajetória no PSD e assumir a liderança do partido, transferiu 92% das cotas da empresa para sua esposa e os 8% restantes para seus dois filhos, numa tentativa de afastar-se diretamente do negócio.
No entanto, as denúncias ganharam força, levando-o a medidas drásticas: ele excluiu a mulher da sociedade e encerrou o contrato com a Solverde. Ainda assim, essas ações não conseguiram reverter o cenário adverso no Parlamento, culminando na derrubada de seu governo nesta terça-feira.
A decisão de enfrentar a moção, mesmo sabendo do resultado desfavorável, reflete a escolha de Montenegro por uma saída rápida em vez de prolongar a crise em investigações parlamentares.
Ele temia, sobretudo, o impacto pessoal de uma CPI, que poderia convocar sua esposa e filhos para depor sobre as atividades da Spinumviva. Agora, fora do poder, o ex-primeiro-ministro já sinaliza que pretende se candidatar novamente pelo PSD nas eleições de maio, apostando no apoio dos eleitores para reverter a situação e retornar ao comando do país.
O caso expõe mais uma vez a fragilidade política recente em Portugal, onde questões éticas têm derrubado lideranças em curto espaço de tempo. Enquanto o país se prepara para um novo pleito, o episódio deixa no ar debates sobre a relação entre negócios privados e a gestão pública, mesmo na ausência de provas de irregularidades diretas por parte de Montenegro. E mais: Moraes anuncia decisão se Bolsonaro e Valdemar podem voltar a ter contato. Clique AQUI para ver. (Foto: Governo de Portugal; Fonte: Folha de SP)