‘Dos poucos gringos que ainda olhavam Brasil, muitos já jogaram a tolha’, diz analista de banco americano

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O Banco Central (BC) vem adotando medidas consideradas essenciais para combater o superaquecimento da economia e os desequilíbrios fiscais no Brasil, por meio de um choque de juros.

No entanto, Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, avalia que a eficácia dessas ações encontra barreiras significativas devido à atual política fiscal do governo federal.



Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Ramos comparou a situação enfrentada pelo BC a “remar contra a corrente”. “Se a corrente for muito forte, o barco não anda. Pode desviar das pedras, mas fica quase uma missão impossível para o Banco Central com a política fiscal no Brasil”, afirmou.

O economista criticou as medidas de corte de gastos, classificando-as como um “pacotinho” insuficiente, e alertou que as metas fiscais prometidas pelo governo Lula já não refletem a realidade econômica do país. Ele projetou um cenário de baixo crescimento econômico, limitado a 1%, inflação elevada em 6% e um câmbio desvalorizado, com o dólar atingindo R$ 7,00, caso não haja mudanças na política fiscal.



Ramos também apontou a perda de interesse de investidores estrangeiros no Brasil como reflexo do atual cenário. “Dos poucos gringos que estavam interessados, alguns já estão jogando a toalha. Isso não é um bom sinal”, disse.

Para ele, a política monetária isolada não será suficiente para reverter a situação, especialmente se o governo mantiver uma postura expansionista nas contas públicas. O alerta reforça a necessidade de um ajuste fiscal mais robusto para evitar consequências econômicas mais graves. Veja trechos da notícia abaixo e clique AQUI para ver a entrevista na íntegra.



Qual a raiz do problema (fiscal)?
Houve um exagero de gasto. Não venham dizer que não. Desde a PEC da transição, essa visão de tributar para gastar parece que não tem limite. E agora que não dá para tributar mais, o Brasil continua pisando em ovos para fazer um pacotinho.



A Argentina acaba de conseguir eliminar o déficit fiscal. É um bom exemplo ao Brasil?
O (Javier) Milei na Argentina fez um ajuste de cinco pontos do PIB, com a economia em recessão, e a popularidade dele se manteve. A Colômbia anunciou um pacote de (ajuste de) 1% do PIB e não chamou nenhuma conferência de imprensa. O México acha que vai crescer menos de 1% no próximo ano e se propôs, no orçamento, a fazer um ajuste fiscal de 2% do PIB. O Brasil fez um pacote que não é de corte de gastos, é de contenção. São economias contrafactuais. O gasto obrigatório vai crescer menos para que o discricionário possa aumentar. É um pacote de 0,2% do PIB e requereu uma planilha com 14 linhas de medidas e uma conferência de imprensa com seis ministros.



Quais (dois erros cometidos pelo governo)?
O primeiro foi na avaliação da transição política, achar que a economia estava muito ruim, que era preciso recompor a base tributária e gastar. Foi uma farra de gasto e que levou ao sobreaquecimento do PIB. O governo turbinou a economia cedo demais em relação ao ciclo político. Geralmente, o que qualquer governo faz é segurar a onda nos primeiros dois anos, ganhar espaço fiscal, para depois gastar um pouquinho. Todo mundo quer ser reeleito. É do jogo, ninguém é criticado por causa disso. Quem está no poder quer ficar e quem está fora quer entrar. O (ex-presidente Jair) Bolsonaro fez isso, todos os outros que o antecederam também. Era o que seria de se esperar. Agora, o governo foi com muita sede ao pote, exagerou a mão no gasto.



O pior ainda está por vir?
A gente está vendo um filme de uma família na praia, contentíssima. Parece que está tudo bem, mas está vindo aí um tsunami. E o mercado está antecipando isso, de que não vai terminar bem.

Sobre o Goldman Sachs
A Goldman Sachs Group, Inc. é uma das principais empresas globais de banco de investimento, gestão de valores imobiliários e de investimentos, que fornece uma ampla gama de serviços financeiros para uma base de clientes substancial e diversificada que inclui corporações, instituições financeiras, governos e pessoas físicas com patrimônio líquido elevado.



Fundada em 1869, a empresa é sediada em Nova York e tem escritórios em todos os principais centros financeiros do mundo. Ela chegou ao Brasil em 1985. (Foto: reprodução redes sociais; Fonte: Estadão)

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