Alegria do mercado ‘vai ser curta’, diz ex-Banco Central sobre ‘arcabouço de Haddad’

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Mais um ex-integrante do Banco Central se mostrou pessimista com a proposta de ‘arcabouço fiscal’ apresentada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). O petista revelou seu projeto que substitui o ‘teto de gastos’ na semana passada.

Desta vez é o ex-diretor do BC (Banco Central) Fabio Kanczuk que avaliou negativamente o plano apresentado por Haddad para o novo marco fiscal. Segundo ele, o arcabouço não vai contribuir para reduzir a Selic, a taxa básica de juros, e aumentará a carga tributária do país.

Para Kanczuk, a reação otimista do mercado com a proposta que substituirá o teto de gastos não será duradoura. “A minha impressão é de que o próprio mercado vai voltar atrás. Quando começarem a fazer as contas, perceberão que foi uma alegria curta”, disse o economista em entrevista publicada nessa segunda-feira (3) pelo jornal O Estado de S. Paulo. “Quando isso acontecer, se eu estiver certo, as expectativas de inflação não vão melhorar e isso impede uma queda de juros“, completou.

Segundo Kanczuk, a ideia de Haddad tem “problemas tanto na ideia geral, quanto em fatores super específicos de curto prazo”. Kanczuk cita a falta de sinalização do governo em reduzir despesas como indicativo de que a proposta só se sustenta ou com o aumento da tributação, ou com a alta do endividamento.

E prosseguiu: “Esse é um desafio imenso do ministro Haddad, equilibrar as contas e aumentar o imposto. Não vai dar certo, ninguém está disposto a aumentar tanto o imposto, mas se não fizer isso, a dívida vai crescer. Esse é o problema do arcabouço, ele não resolve esse dilema. Não vão conseguir fechar a conta. Carga tributária não é algo sobre justiça, é um número, é quanto o governo ganhou de impostos e quanto foi o tamanho da economia. A verdade é que ele [Fernando Haddad] está querendo, sim, aumentar a carga tributária. Pode até tentar vender de um jeito meio diferente, mas isso é carga tributária também. O mercado embarca em teses, é muito mais volátil. Da mesma forma, o otimismo de agora com o arcabouço deve ter vida curta também.”.

Não foi o primeiro
Nesse domingo (2), o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore também afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que o desenho do projeto de Haddad ‘levará a uma alta brutal da carga tributária” no Brasil. Para chegar a essa conclusão, ele tomou como base um artigo bastante denso publicado no portal sobre economia e negócios ‘Brazil Journal’. O texto realizou simulações do arcabouço usando a expectativa de crescimento do PIB de acordo com o boletim Focus (divulgado toda semana).

Segundo Pastores, “o propósito do arcabouço é chegar a um superávit primário que permita reduzir a relação dívida/PIB. A única forma, com esse arcabouço, de alcançar resultados primários que reduzam essa relação é ter um enorme aumento de carga tributária. Estou pegando uma simulação feita pelo Marcos Lisboa e pelo Marcos Mendes (publicada no Brazil Journal) que aponta um aumento da ordem de 5,2 pontos de porcentagem do PIB. Isso não é factível. Esse arcabouço tem uma aritmética impecável, na qual o ministro Haddad conseguiu provar que, se a despesa crescer menos do que a receita, ele gera superávits primários, mas tem uma economia falha, que não garante o resultado.”, disse o economista. Clique AQUI para ver.

Perfil
Fabio Kanczuk nasceu em 1969, em São Paulo. Graduou-se como engenheiro eletrônico no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1991. Concluiu mestrado e doutorado em economia pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos anos de 1995 e 1998, respectivamente. Atuou como professor da Universidade de São Paulo (1991 a 2012) e foi professor visitante na escola de negócios de Harvard (2001 a 2002) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000 a 2001), além de professor assistente na Universidade da Califórnia (1995 a 1997).

Kanczuk também foi consultor independente na Syllabus Engenharia Econômica (2014 a 2016) e sócio e economista-chefe na Brazil Warrant Gestão de Investimentos (2012 a 2014), na Reliance Asset Management (2007 a 2012) e na MCM Consultores Associados (2002 a 2007). Atuou ainda na Rosenberg & Associados. Declarou ser sócio da Syllabus. Em 2018, foi diretor-executivo para o Brasil e outros oito países junto ao Banco Mundial, tendo sido secretário de Política Econômica no período de outubro de 2016 a setembro de 2018. Em 2019, foi aprovado pelos senadores para assumir cargo na Diretoria de Política Econômica do Banco Central (BC).


Fonte: Folha de SP; Agência Senado
Foto: Agência Senado

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