O governo de Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a redução das tarifas brasileiras sobre o etanol dos Estados Unidos a concessões recíprocas por parte da administração de Donald Trump. A informação foi revelada pela coluna de Jamil Chade, no portal UOL.
A proposta, elaborada pelo Itamaraty e pelo ‘Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior’, foi levada aos americanos em uma rodada de negociações iniciada pela Casa Branca, que busca ajustar sua política comercial antes de 2 de abril.
Na última sexta-feira (14), representantes de Brasília e Washington reuniram-se virtualmente pela terceira vez. Os Estados Unidos não apresentaram uma resposta imediata, limitando-se a dizer que irão analisar o pedido brasileiro. Até o momento, não há previsão para um novo encontro. Diferente de Canadá, China e União Europeia, que optaram por retaliar tarifas americanas, o Brasil prefere a via diplomática para evitar escaladas no embate comercial.
Etanol na Mira dos Americanos
A questão do etanol ganhou destaque na pauta americana devido à tarifa de 18% imposta pelo Brasil às importações do produto. Os EUA, que aplicam uma taxa de apenas 2,5% sobre o etanol brasileiro, pressionam por maior abertura do mercado nacional.
“Anteriormente, as importações de etanol se beneficiavam de tarifas de 0% sob um programa de cotas tarifárias”, destacou um documento da Câmara de Comércio dos EUA obtido pelo UOL. O texto aponta que, em fevereiro de 2023, a Câmara de Comércio Exterior do Brasil (Camex) elevou a tarifa de 16% para 18% em 2024, criando o que os americanos chamam de “um irritante comercial significativo na relação bilateral”.
O setor privado dos EUA critica ainda o acesso desigual: enquanto produtores brasileiros aproveitam programas como o ‘Renewable Fuels Standard’, o etanol americano não participa do RenovaBio, iniciativa do governo Lula para combustíveis. “Os EUA impõem uma tarifa de 2,5% sobre o etanol brasileiro, destacando um desequilíbrio”, reforça o documento, que recomenda ao governo Trump intensificar a pressão por reciprocidade.
Açúcar e Milho: O Jogo Político
A resposta brasileira foi clara: só haverá redução nas barreiras ao etanol se os EUA abrirem seu mercado ao açúcar do Brasil. Nos Estados Unidos, o etanol é majoritariamente produzido a partir do milho, uma commodity essencial em estados agrícolas como Iowa, Nebraska, Missouri, Indiana e Kansas – regiões que apoiaram massivamente Trump nas eleições. Esses produtores, já prejudicados por retaliações chinesas, veem no mercado brasileiro uma chance de recuperação, o que dá à demanda americana um forte peso político e eleitoral.
Aço: Outro Ponto de Tensão
Além do etanol, o aço brasileiro é um tema central nas negociações. Desde que Trump impôs uma tarifa global de 25% ao setor siderúrgico, o Brasil, um dos maiores fornecedores de aço aos EUA, sofreu impactos significativos. Na reunião de sexta-feira, o governo Lula pediu a volta de cotas que permitam a exportação de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 680 mil toneladas de aço acabado sem taxação extra.
Para persuadir os americanos, os negociadores brasileiros apresentaram dois argumentos. Primeiro, a produção interna dos EUA não supre a demanda por aço semiacabado, e a ausência da cota brasileira poderia abrir espaço para aço barato de outros países, muitas vezes ligado a práticas comerciais desleais.
Segundo, o Brasil é o único grande exportador de aço para os EUA com déficit comercial em relação a Washington. “O Brasil responde pelo 7º maior superávit comercial de bens dos Estados Unidos”, afirma o governo, destacando que, somando serviços, o superávit americano ultrapassa US$ 25 bilhões. E mais: Saiba por que a Justiça determinou suspensão de atividades de parque na Bahia, eleito 4º melhor do mundo. Clique AQUI para ver. (Foto: reprodução redes sociais; Fonte: UOL)