O ex-vice-presidente da República e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira, 23, que desconhece a tentativa de golpe e culpou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva pela desordem em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Mourão é testemunha do general Heleno, do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Walter Braga Netto no processo em que o ex-chefe do Executivo é acusado de tentativa de golpe de Estado. O ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso, conduz a audiência.
Na audiência, Mourão disse que não participou de nenhuma reunião que tenha envolvido alguma intentona golpista e afirmou não ter falado sobre o Peru, que vivia uma tentativa de autogolpe, em 2022. Ele negou a existência de um diálogo em que teria dito que o “Peru é logo ali”.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou para Mourão se ele achava que “(Mauro) Cid era mentiroso”, já que o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência também tinha falado sobre a conversa. “Não, não posso dizer que ele era mentiroso, até porque não tive acesso ao que ele disse”, respondeu o senador.
O diálogo em questão, segundo as investigações, foi entre tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, alvo da Operação Tempus Veritatis, e Mauro Cid.
Para Mourão, a culpa dos acontecimentos do 8 de Janeiro é do governo Lula, que não agiu de forma de acordo com a proporção das ações daquele dia. “O que aconteceu no 8 de Janeiro foi uma inação por parte do governo deveria ter acionado os meios respectivos”, afirmou.
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou que os manifestantes que estavam no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, pediam “algo que era totalmente inviável”, em referência a uma intervenção militar.
Ao ser questionado pela defesa do ex-presidente sobre sua opinião a respeito das pessoas que estavam no acampamento, Mourão afirmou que o que era pedido era “totalmente inviável e inconstitucional”. “Pessoas em frente aos quartéis pedindo algo que era totalmente inviável, que era intervenção militar”, declarou.
Hamilton Mourão (Republicanos-RS) também contou como foi o dia seguinte ao resultado das eleições de 2022, depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarar a vitória de Lula.
Conforme Mourão, em uma reunião com Bolsonaro pós-anúncio do TSE para entender as causas da derrota, o militar avisou que telefonaria para o recém-vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a fim de estabelecer contato com o novo governo.
Mourão contou ainda que a mulher de Alckmin foi ao Palácio do Jaburu para entender a rotina do local, que é a residência oficial do vice.
De acordo com o senador, na ocasião, Bolsonaro mandou chamar o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que chefiava a Casa Civil, para dar início à transição.
“O presidente Bolsonaro estava pronto para entregar o governo ao presidente recém-eleito”, afirmou Mourão, ao mencionar que não recebeu nenhum comando para estabelecer entraves ao processo. Hamilton Mourão.
Questionado sobre a participação em encontros que estariam tratando de suposto golpe de Estado, Mourão negou. O senador afirmou também que Bolsonaro nunca tratou com ele com qualquer medida que propusesse mudar o “status quo”.
Também disse que nunca participou de reunião com Jair Bolsonaro (PL) para discutir a chamada “minuta golpista” e que o então presidente estava “pronto” para entregar o governo ao petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Em todas as oportunidades, em nenhum momento ele [Bolsonaro] mencionou qualquer medida que representasse ruptura do ‘status quo’. As nossas conversas sempre foram em torno da transição”, disse durante o depoimento.
Mourão contou que esteve no Palácio do Planalto no dia seguinte à votação do segundo turno e disse que iria entrar em contato com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) “para começar a transição do novo governo ungido nas urnas”.
“Bolsonaro estava pronto para entregar o governo para o presidente recém-eleito”, afirmou no depoimento. Ele também contou que, no dia 8 de janeiro de 2023, estava em casa, “dentro da piscina”, e que desconhece qualquer participação de Bolsonaro e outros ex-integrantes do governo no movimento que terminou com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
O senador também negou que tenha sofrido pressão nas redes sociais para aderir à trama golpista. “Eu sou vítima de ataques constantes na internet, faz parte do jogo político. Mas tenho certeza que não partem de companheiros que tive dentro do Exército, partem desses grupos que vicejam nesse pântano das redes sociais.”.
Mourão disse ainda que tem uma amizade de mais de 40 anos com os militares que fazem parte do “núcleo crucial” da suposta organização criminosa e se tornaram réus por tentativa de golpe.
Em relação a Augusto Heleno, ele disse que o general sempre se destacou e foi muito respeitado por todos os seus pares e subordinados dentro do Exército. “Um homem que sempre deu o exemplo, aquilo que ele exigia dos seus subordinados, ele exigia dele mesmo.”
Mourão também teceu elogios a Braga Netto, a quem chamou de “brilhante”. “Ele construiu uma carreira militar extraordinária.”. Já sobre o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, o parlamentar disse conhecê-lo desde criança e que o considerava “um filho”. (Foto: Ag. Senado; Fontes :Estadão; Oeste; Metrópoles; Valor)