Em sua coluna no jornal O Globo, a jornalista Miriam Leitão afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tratou seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal como uma de suas conhecidas transmissões ao vivo nas redes sociais.
“O ex-presidente Jair Bolsonaro transformou o seu interrogatório numa daquelas lives em que fala as maiores mentiras como se fossem verdades”, escreveu ela, apontando que o ex-chefe do Executivo manteve um discurso voltado mais à sua base de apoio do que à própria defesa judicial.
Conforme Miriam, Bolsonaro conseguiu manter um tom calmo durante toda a oitiva, algo que já foi considerado uma “proeza”. Entretanto, segundo a jornalista, essa serenidade foi usada para justificar atitudes e declarações polêmicas. “Debitada todas as ameaças que fez à democracia ao seu ‘temperamento’”, destacou.
Um dos momentos centrais do depoimento, conforme mostrou a colunista, foi quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou o ex-presidente sobre uma reunião com ministros.
A resposta de Bolsonaro foi: “o senhor me conhece, é o meu temperamento, a reunião nem era para isso”. Para Miriam, essa tentativa de justificar o conteúdo da reunião é parte de sua estratégia de minimizar seus próprios atos.
Ainda sobre essa reunião com ministros, que ficou registrada em vídeo e depois veio à tona, Bolsonaro lamentou o fato de ela ter sido gravada — não o conteúdo em si. “Para Bolsonaro, o erro era ter gravado a reunião, não o que foi dito nela”, pontuou a jornalista.
Segundo Miriam, Bolsonaro também negou’ muitas provas que existem de que ele tentou reverter o resultado através de uma manobra inconstitucional’. A jornalista questiona o efeito prático dessas negativas diante do volume de provas já reunidas.
Quando confrontado sobre sua iniciativa de envolver militares na tentativa de contestar o processo eleitoral, Bolsonaro justificou dizendo que é de formação militar e que com militares se pode contar. Conforme Miriam Leitão, essa linha de argumentação é uma tentativa de normalizar ações que ultrapassam os limites constitucionais.
A colunista também destacou que Bolsonaro aproveitou os momentos iniciais do depoimento para promover seu governo, numa repetição do que fazia frequentemente em suas transmissões às quintas-feiras. “Gastou muito tempo inicial fazendo propaganda do seu governo, exatamente como fazia nas suas lives”, relatou.
Ainda segundo a jornalista, o ex-presidente voltou a culpar a imprensa, alegando que foi perseguido por ter cortado verbas de propaganda em respeito ao teto de gastos. Miriam rebate: “Mentiu, como sempre. Mas com voz calma, de forma convicta, de tal forma que produzirá muitos cortes para alimentar suas redes”.
A análise final da colunista aponta para a incerteza sobre o impacto desse depoimento no julgamento de Bolsonaro. “A grande questão é se isso vai ajudá-lo no seu julgamento”, conclui Miriam Leitão. E mais: Bolsonaro se manifesta após depoimento no STF: ‘serei o próximo presidente da República’. Clique AQUI para ver. (Foto: STF)
Bolsonaro se manifesta após depoimento no STF: ‘serei o próximo presidente da República’
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