Lula criticou nesta terça-feira (23) a visão de que despesas com educação, saúde e programas sociais para os mais pobres são consideradas simples “gastos”. (assista ao fim da reportagem).
De maneira irônica, o petista afirmou que “no Brasil, tudo é considerado gasto” e que “a única coisa que parece ser considerada investimento é o superávit primário”, referindo-se ao esforço para equilibrar as contas públicas. No ano passado, o déficit nas contas públicas atingiu R$ 249 bilhões.
As declarações de Lula sobre o superávit primário — que é o resultado das receitas menos as despesas do governo, excluindo o pagamento de juros da dívida pública — surgem em um momento em que seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revisou a meta para o próximo ano, passando de superávit para “déficit zero”. No entanto, essa mudança não gerou confiança do mercado quanto ao cumprimento dessa nova promessa.
Além disso, as críticas ao governo se concentram no fato de que o ajuste fiscal liderado por Haddad está excessivamente focado no aumento das receitas, sem um esforço sustentável no corte de gastos. Nesse contexto, as palavras de Lula acabam por reforçar essas críticas. “O problema é que no Brasil tudo é tratado como se fosse gasto. Dinheiro para os pobres é gasto, investimento em saúde é gasto, investimento em educação é gasto”, afirmou o ex-presidente.
Essa declaração aumenta ainda mais a pressão sobre Haddad, especialmente em um momento em que as opções do ministro para aumentar a arrecadação estão mais limitadas. O governo busca zerar o déficit nas contas públicas este ano, conforme previsto no arcabouço fiscal.
Após ter conseguido aprovar, no ano passado, medidas como a tributação dos fundos dos super-ricos e em paraísos fiscais, o chefe da equipe econômica tem encontrado mais resistência para avançar com a agenda de aumento de arrecadação.
No Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) divulgado no último dia 15, o governo alterou a meta fiscal de 2025 de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para déficit zero. No entanto, o mercado ainda tem dúvidas sobre a possibilidade de alcançar esse resultado. De acordo com o Boletim Focus do Banco Central, os analistas projetam para o próximo ano um déficit primário de 0,6% do PIB.