O jornal ‘O Globo’ publicou neste domingo (29) um editorial crítico à recente tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva de se projetar como uma liderança global. Segundo o jornal, apesar dos esforços do petista em Nova York, onde discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU, participou do G20 e manteve reuniões com líderes como Pedro Sánchez e Gustavo Petro, Lula não conseguiu resultados expressivos.
O editorial aponta que ele já não exerce o mesmo magnetismo no cenário internacional. “Lula está longe de alcançar os resultados que gostaria. A verdade é que, em seu terceiro mandato, ele é conhecido no exterior, mas não é mais o líder popular que já foi um dia.”
Além de destacar sua participação em encontros bilaterais e sua defesa por reformas na governança global, o editorial sublinha as dificuldades enfrentadas pelo presidente brasileiro para conquistar simpatia, inclusive na América Latina.
Segundo o jornal, uma pesquisa do Pew Research Center revela que há uma confiança limitada em Lula entre países do continente. A pesquisa, realizada entre janeiro e abril de 2024, em cinco países latino-americanos — Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru — mostrou que “é baixa a confiança latino-americana em Lula fazer o que é certo em termos de política externa”.
O Globo enfatiza que os dados da pesquisa revelam um cenário desfavorável para Lula em países estratégicos. Na Argentina, 40% dos entrevistados demonstram confiança em Lula, mas 49% têm uma visão negativa. No Chile, a crítica é ainda mais acentuada, com 62% de respostas desfavoráveis, enquanto no México esse número atinge 60%, no Peru, 55%, e na Colômbia, 53%. O jornal ressalta que esses números refletem a recente inclinação de parte da América do Sul para a direita, evidenciada pela ascensão de líderes como Javier Milei na Argentina.
Em contraste, a percepção sobre o Brasil como um todo continua relativamente positiva, com argentinos (59%), peruanos (58%) e colombianos (55%) mantendo uma visão favorável do país. No entanto, quando o foco é a influência global brasileira, o ceticismo prevalece.
“Os americanos são mais reticentes com relação ao Brasil que os latino-americanos”, assinala o editorial, observando que nos Estados Unidos, 64% dos entrevistados acreditam que a influência do Brasil permaneceu inalterada, enquanto apenas 16% acreditam que o país ganhou força no cenário internacional. Além disso, 33% dos chilenos, 25% dos colombianos e 23% dos peruanos acreditam que o Brasil está mais fraco.
O Globo também não poupou críticas à política externa de Lula, mencionando os impactos negativos das suas posições em questões internacionais, como a guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. Segundo o jornal, a postura de Lula em relação a essas crises, especialmente sua tentativa de mediação, “leva Lula a se lançar em missões impossíveis diante da projeção do Brasil no mundo, com evidentes limitações na sua influência externa”.
Por fim, o editorial destaca que até mesmo na América Latina, onde historicamente Lula teve mais influência, ele enfrenta dificuldades. O jornal relembra a aproximação questionável com Nicolás Maduro, que enfraqueceu as tentativas de mediação do Brasil na crise venezuelana. A tentativa de Lula de manter distância do novo presidente argentino, Javier Milei, apesar da importância comercial da Argentina para o Brasil, também foi vista como um erro estratégico.
“A passagem de Lula por Nova York deixou evidente aquilo que a pesquisa já mostrava: passou o tempo em que Barack Obama chamava Lula de ‘o cara’ e ele despertava a simpatia de todos como liderança global”, concluiu O Globo, sinalizando que Lula enfrenta um novo cenário em seu retorno ao cenário internacional. Clique AQUI para ver na íntegra.