Em uma entrevista dada ao site da Ordem de Santo Agostinho em 2023, Robert Francis Prevost, que à época havia sido recém-nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos, fez reflexões que hoje, já como Papa Leão XIV, ganham ainda mais relevância.
O então arcebispo norte-americano falou sobre os desafios de manter a unidade em meio à diversidade cultural, política e religiosa do mundo atual.
“É um desafio, sem dúvida, principalmente quando a polarização se tornou a forma de operar em uma sociedade que, em vez de buscar a unidade como princípio fundamental, oscila de um extremo ao outro”, declarou Prevost, referindo-se às divisões crescentes que, segundo ele, dificultam o espírito comunitário que a Igreja tanto preza.
Para ele, a pluralidade é bem-vinda, mas precisa ser acompanhada de limites e discernimento. “A diversidade também não pode ser entendida como um modo de vida sem critérios ou sem ordem”, afirmou.
E alertou: “Quando uma ideologia se torna, por assim dizer, a dona da minha vida, já não consigo mais dialogar com outra pessoa, porque já decidi como as coisas serão.” Segundo Leão XIV, esse tipo de postura fecha portas e isola as pessoas. “Isso, obviamente, torna muito difícil ser Igreja, ser comunidade, ser irmãos e irmãs.”
Durante a conversa, Prevost também destacou que as prioridades da Igreja podem variar conforme o contexto de cada país, mas que o centro da missão permanece o mesmo. “Ao listar nossas prioridades e avaliar os desafios que temos pela frente, devemos entender que as necessidades urgentes da Itália, Espanha, Estados Unidos, Peru ou China, por exemplo, provavelmente não são as mesmas, exceto em um aspecto: pregar o Evangelho, e que ele seja o mesmo em todos os lugares.”
Ao relembrar sua transição do bispado em Chiclayo, no Peru, para o cargo no Vaticano, ele compartilhou a surpresa com a nomeação. “É uma honra receber este mandato, mas, sinceramente, foi difícil para mim deixar Chiclayo depois de tantos anos — mais de 20 no Peru — sendo feliz fazendo o que fazia”, confessou.
Prevost também reiterou uma das ideias centrais do pontificado de Francisco: a de que os líderes da Igreja devem estar em sintonia com o povo.
“O Papa Francisco deixou isso muito claro em diversas ocasiões. Ele não quer bispos que vivam em palácios”, disse. Para ele, um bispo eficaz deve estar presente e acessível. “O bispo precisa ter muitas habilidades: saber governar, administrar, organizar e, sobretudo, saber lidar com as pessoas.”
Agora, como Papa Leão XIV, essas palavras indicam o caminho que ele poderá seguir no comando da Igreja Católica — um caminho de escuta, simplicidade e presença.