O governo Lula, por meio de suas redes sociais, ‘comemorou’ a retomada da exigência de visto para turistas dos Estados Unidos, Austrália, Japão e Canadá. Em postagem da Secretaria de Comunicação do Governo, a questão econômica é rebaixada a uma mera ‘igualdade de tratamento’.
“Cabeça erguida, direitos iguais. O Governo Federal decidiu retomar a exigência de vistos para turistas da Austrália, Canadá, EUA e Japão — países que exigem visto de visita de brasileiros. A medida passará a valer a partir de 1º de outubro de 2023. Assim, o Itamaraty retoma o padrão da política migratória brasileira, historicamente baseada nos princípios da reciprocidade e da igualdade de tratamento.”.
Cabeça erguida, direitos iguais. O Governo Federal decidiu retomar a exigência de vistos para turistas da Austrália, Canadá, EUA e Japão — países que exigem visto de visita de brasileiros. A medida passará a valer a partir de 1º de outubro de 2023. pic.twitter.com/BBLMZfRMgg
— SecomVc (@secomvc) March 17, 2023
Porém, para o setor de turismo, o tema é motivo de preocupação financeira mesmo. Segundo o presidente executivo da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), Wilson Luis Pinto, a notícia do retorno da obrigatoriedade vai impactar desfavoravelmente o setor no Brasil.
“Vai valer a partir só de outubro, isso já alivia um pouquinho, e não está bem especificado como que as embaixadas desses países vão operacionalizar esse visto. Se for pela internet, rapidinho, em 24 horas liberar, com um custo baixíssimo, então menos mal. Mas se for demorado e tiver um custo alto, como é o visto americano aqui no Brasil para nós, que demora um ano e meio, mais ou menos, em média para se tirar, realmente o turismo [no território brasileiro] vai ser muito impactado”, ressalta.
E prosseguiu: “Porque para o turismo é ruim. É lógico que agora eles vão ver o lado do país. Eles têm que entender o que o país está pensando em fazer com esses vistos, de que forma será feito esse visto americano, japonês, para entrar no Brasil”, pontua.
A flexibilização do visto, adotada pelo governo Bolsonaro, levou a um aumento no número de turistas internacionais no Brasil e na receita turística internacional do país no período de junho de 2019 a março de 2020.
Um estudo que indicou que nos oito meses de isenção antes do início da pandemia, os quatro países livres do documento enviaram ao Brasil quase 80 mil turistas a mais do que o previsto para se isenção não tivesse sido implementada. A receita turística adicional, com esses turistas, é estimada em R$ 328 milhões.
Os números constam em um estudo do doutor em economia do turismo Glauber Eduardo Santos, que ainda faz duas importantes considerações: “Primeiro que o efeito dessa política sobre o turismo (do governo Bolsonaro) ainda estava se consolidando e crescendo quando a pandemia efetivamente chegou. Portanto, a gente estima que o efeito anual total dessa política, em tempos de normalidade, é na verdade maior que esses 80 mil turistas que foram observados naqueles oito meses. O efeito maior pode passar de 200 mil turistas [a mais, dos quatro países] por ano e o equivalente a R$ 800 milhões [a mais] em receitas turísticas internacionais”.
Antes do anúncio oficial da volta da obrigatoriedade dos vistos ser feito pelo Itamaraty, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a Aeroportos do Brasil (ABR) e outras três entidades enviaram um ofício conjunto à ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e mais autoridades, como o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, pedindo “intervenção junto ao governo brasileiro com o objetivo de impedir” o retorno da exigência de visto de turista da Austrália, Canadá, EUA e Japão. Não adiantou, como se sabe.