O general Marco Antônio Freire Gomes, que chefiou o Exército no fim do governo Bolsonaro, foi repreendido por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto prestava depoimento no processo que investiga uma suposta ‘tentativa de golpe de Estado’.
Freire Gomes confirmou que participou de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2022, na qual se discutiu o uso de medidas excepcionais após a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O clima da audiência esquentou quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou Freire Gomes sobre a conduta dos participantes do encontro.
O general relatou: “Expus a ele a importância de avaliar todas as condicionantes e o dia seguinte. Eu estava focado na minha lealdade de ser franco ao ex-presidente. O brigadeiro foi contrário a qualquer coisa naquele momento. Que eu me lembre o que o ministro da Defesa fez foi ficar calado. O [chefe da Marinha] Almir Garnier apenas demonstrou, vamos dizer assim, o respeito ao comandante em chefe das Forças Armadas. Não interpretei como qualquer tipo de conluio”.
A fala motivou uma intervenção imediata de Moraes, que contestou uma divergência entre o que havia sido dito à Polícia Federal e o relato feito diante do STF.
“Quero advertir a testemunha, ela não pode omitir o que sabe. Vou dar à testemunha a chance de dizer a verdade, não pode agora perante o STF falar que não lembra, que talvez, que ‘eu estava focado só no que pensava’. A testemunha é general do Exército, foi comandante do Exército, consequentemente está preparado para lidar sob tensão, tanto no interrogatório da polícia quanto aqui”, disse Moraes, no momento mais tenso até aqui do primeiro dia de depoimentos.
E prosseguiu: “Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. Agora não pode perante o STF. Solicito que, antes de responder, pense bem, porque Vossa Senhoria afirmou na polícia que o depoente e o brigadeiro Baptista Júnior afirmaram de forma contundente sua discordância em relação ao conteúdo exposto.” E completou: “Ou o senhor falseou a verdade à polícia ou o senhor está falseando a verdade aqui.”
Freire Gomes refutou a insinuação de que tenha faltado com a verdade: “Com 50 anos de Exército, eu jamais mentiria. Eu e o brigadeiro Batista nos colocamos contrários ao assunto. Que eu não me recordo efetivamente da posição do ministro da Defesa, e o Almir Garnier colocou essa postura de estar com o presidente. Agora não omiti o dado. Eu sei plenamente o que eu falei. Agora a intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe.”
Ele também reafirmou ter participado de um encontro com Bolsonaro em 7 de dezembro de 2022, dias após o resultado eleitoral, para tratar do que chamou de “hipóteses de reação”. Questionado se houve discussão sobre decretar estado de sítio, Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou estado de defesa, confirmou que esses instrumentos foram mencionados.
Embora tenha admitido a existência de uma minuta apresentada por Bolsonaro com “institutos jurídicos” para tentar anular o pleito, Freire Gomes afirmou ter se posicionado contra. Esse ponto é um dos pilares da acusação contra Bolsonaro e outras sete pessoas, apontadas como integrantes do “núcleo crucial” na elaboração da suposta ‘tentativa de golpe’.
O general também negou que tenha sugerido prender o então presidente: “Eu teria dado voz de prisão ao presidente? Não aconteceu isso, de forma alguma. O que eu alertei ao presidente, sim, é que, se ele saísse dos aspectos jurídicos, até que ele não poderia contar com nosso apoio e poderia ser enquadrado juridicamente”.
Durante o depoimento, os advogados Celso Vilardi (representante de Bolsonaro) e Demóstenes Torres (advogado de Almir Garnier) tentaram intervir, mas foram interrompidos por Moraes, que só autorizou suas manifestações após o fim das perguntas do Ministério Público.
O ministro Luiz Fux também participou da audiência e perguntou ao general sobre possíveis inconsistências entre seu depoimento à PF e o prestado no STF. Freire Gomes respondeu que estava “preparado psicologicamente” e que não teve intenção de confundir os relatos, nem ele nem o delegado responsável.
Outras testemunhas também foram ouvidas ao longo da sessão, entre elas Éder Lindsay Magalhães Balbino (ligado à auditoria contratada pelo PL para fiscalizar as urnas), Clebson Ferreira de Paula Vieira (ex-assessor do Ministério da Justiça) e Adiel Pereira Alcântara (ex-diretor da PRF). E mais: General Freire Gomes nega ter ameaçado prender Bolsonaro. Clique AQUI para ver. (Foto: EBC; Fonte: UOL)