Milei compara Mercosul à ‘Cortina de Ferro’ e diz que Argentina seguirá “sozinha”, se necessário

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Ao encerrar seu período na presidência temporária do Mercosul, o presidente da Argentina, Javier Milei, utilizou seu discurso nesta quinta-feira (3) para reforçar a principal meta de seu governo no bloco: ampliar o acesso a mercados internacionais.

Com tom firme, ele pediu uma revisão das normas do Mercosul e maior liberdade econômica para os países-membros, argumentando que o modelo atual funciona como uma barreira.

“Propusemos que, como bloco, nos movamos para um esquema comercial e regulatório muito mais livre, em vez da cortina de ferro à qual hoje estamos submetidos, no qual cada país possa gozar de maior autonomia para aproveitar suas vantagens comparativas e seu potencial exportador” — declarou Milei, durante a cúpula.

A Cortina de Ferro foi uma expressão popularizada para descrever a divisão política, ideológica e militar entre o bloco socialista liderado pela União Soviética e os países do Ocidente, liderados pelos Estados Unidos, durante a Guerra Fria.

Ela simbolizava a barreira — literal e figurada — que isolava os países do Leste Europeu do restante da Europa, restringindo liberdades, o fluxo de informações e o contato com o mundo capitalista. O termo foi amplamente usado após um discurso de Winston Churchill em 1946, no qual ele alertava para a influência crescente da URSS no leste europeu.

O presidente argentino também comemorou avanços recentes, como o fim das negociações com a União Europeia e com a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Ele ainda destacou a importância de manter o diálogo com países como Israel, Emirados Árabes, Panamá e El Salvador.

Caso a agenda de Buenos Aires não seja acompanhada pelos demais membros, avisou: “o faremos juntos ou sozinhos”.

Em tom urgente, ele ressaltou: “A Argentina não pode esperar, precisamos de mais liberdade de forma urgente. Deixamos para trás décadas de estagnação. Os sócios dos Mercosul devem decidir se querem ajudar no caminho que iniciamos”.

A declaração ocorreu em um ambiente tenso, mas sem confrontos diretos. Milei e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, trocaram apenas um cumprimento breve durante a tradicional foto oficial no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina.

Sem mencionar o encontro que Lula teve com a ex-presidente argentina Cristina Kirchner mais cedo, Milei concentrou sua fala nos temas que considera centrais para o bloco: comércio exterior e segurança. “Temos de deixar de pensar o Mercosul como escudo que nos proteje do mundo, e sim uma lança que nos permita entrar em mercados globais” — afirmou.

E acrescentou: “Não podemos deixar que diferenças em questões acessórias nos dividam”.

Num raro momento de conciliação, o presidente argentino agradeceu o apoio dos demais países à reivindicação de soberania sobre as Ilhas Malvinas — um tema que tradicionalmente une governos brasileiros de diferentes vertentes políticas.

Mesmo reconhecendo avanços durante seus seis meses à frente do Mercosul, como a flexibilização da Tarifa Externa Comum (TEC), Milei disse esperar que o Brasil, agora à frente do bloco, “dê continuidade ao que nós começamos”.

A fala de Milei também incluiu críticas ao regime de Nicolás Maduro. “Condenamos os casos de detenções ilegais na Venezuela, onde as pessoas são presas e seus direitos são violados. Voltamos a reclamar a liberação do policial militar Nahuel Gallo [policial argentino preso na Venezuela desde 2024]” — declarou.

Ele aproveitou para sugerir a criação de uma agência regional de combate ao crime organizado, com o objetivo de enfrentar facções como o Comando Vermelho.

No encerramento, o presidente argentino manteve sua assinatura religiosa: “as forças dos céus nos acompanhem”, em referência ao Livro dos Macabeus, que afirma que “a vitória na batalha não depende do número de soldados, mas das forças que vêm do céu”.

Embora mais moderado do que o habitual — e sem o seu famoso “Viva la libertad, carajo” — Milei terminou o discurso com uma citação de Talleyrand, chanceler de Napoleão Bonaparte:

“Talleyrand dizia que a linguagem foi dada aos homens para esconder seus pensamentos. Nos discursos diplomáticos, a norma é falar e dizer o menos possível, ou dizer coisas no plano subjetivo ou interpretativo. Nós não acreditamos em mensagens ocultas. Preferimos verdades difíceis e não mentiras confortáveis.”

Assim, sem esconder seu estilo direto, Javier Milei passou a presidência do Mercosul ao Brasil deixando claro seu posicionamento sobre o futuro do bloco.

 

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